Embora o termo ” a Lei ” e a palavra ” mandamento” é freqüentemente
usadas de modo intercambiável na Bíblia, o Evangelho de João faz uma nítida
distinção entre eles. A expressão ” a Lei ” aparece quatorze vezes no Evangelho
de João. A palavra ” mandamento” também aparece aproximadamente quatorze vezes.
É sabido que o Evangelho de João é um livro de controvérsias. O livro
descreve uma grande confrontação entre Jesus e a Lei, entre o mandamento de
Cristo ou do Pai e a Lei, entre Jesus e Judaísmo, e entre a igreja e a
sinagoga. Gutbrod declara que João ” não tem nenhum interesse particular na Lei
como uma possibilidade para regular o ser humano ou até mesmo para prática Cristã.
” Ele também diz que em João ” a Lei nunca é usada como a regra de conduta
Cristã para a igreja. ” por outro lado, no livro de João, Jesus repetidamente
deseja que seus discípulos obedeçam os seus mandamentos.
Em todos, excetuando-se apenas uma vez, o termo lei aparece acompanhado
de artigo definido. Sempre aparece o termo “a lei”, veja:
“a lei foi dada por intermédio de Moisés.” João 1:17.
” Felipe achou a Natanael, e disse-lhe: Acabamos de achar aquele de quem
escreveram Moisés na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José” João
1:45.
A “Lei” em pauta, é claro, se refere à Lei de Moisés. É o corpo de
instruções revelado a Moises que constituiu a base para a vida social e
religiosa de Israel. É o corpo de revelação divina dado a Moises. Em um
contexto mais lato no Evangelho de João, porém, o termo ” a Lei ” recorre não
só aos cinco livros de Moisés mas também inclui os Salmos e os livros
proféticos do Velho Testamento e, realmente, o próprio Velho Testamento
inteiro.
Por exemplo: “Tornou-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse:
Vós sois deuses?” (João 10:34; cf. Salmos 82:6). E novamente: ” Mas isto é para
que se cumpra o que está escrito na Lei : ‘ me odiaram sem razão. ” (João
15:25; cf. Salmos. 35:19; 69:4).
Em algumas passagens Joanina a expressão ” a Lei ” pode recorrer à Lei de
Moisés em sentido não específico.
Observe:
“Moises não lhes deu a lei? Contudo nenhum de vós pratica. Por que
procurais matar-me?”João 7:19.
“Ora, se um homem recebe a circuncisão no sábado, para que a lei de
Moisés não seja violada, como vos indignais contra mim, porque no sábado tornei
um homem inteiramente são?”João 7:23.
Em outras situações o termo ” a Lei ” tem o significado específico de uma
ordenação legal:
“A nossa lei, porventura, julga um homem sem primeiro ouvi-lo e ter
conhecimento do que ele faz?” João 7:51.
Mas sempre que o termo ” a Lei ” é usada no Evangelho de João, refere-se
à Lei do Velho Testamento conhecida como a Torah dos judeus. João ensina que
esta Lei de Moisés apontava para Cristo. É uma profecia sobre Cristo. Quando os
judeus confrontaram Jesus e o acusaram de estar quebrando a Lei por curar no
dia de sábado, eles o renegaram como um pecador fora da lei e então tentaram
mata-lo. Fazendo isto, João mostra que os judeus eram infiéis à sua lei (veja
João 7:19). Além disso, João mostra que Moises testemunhou de Cristo. Se os
judeus tivessem sido fiéis à Lei, eles teriam abraçado Jesus como o Messias
deles e Salvador em lugar de ter tentando mata-lo (João 7).
João também ensina que a Lei não só aponta para Cristo; não só é uma
profecia sobre Cristo; mas a própria Lei é substituída por Jesus. Este
pensamento é tecido ao longo do livro de João, mas é apresentado especialmente no
prólogo de João 1:1-18.
Vejamos:
“No princípio era a Palavra [verbo], e a Palavra estava com Deus, e a
Palavra era Deus. Ele estava no princípio com Deus; todas as coisas foram
feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava vida, e a
vida era a luz dos homens”
“Ninguém nunca viu a Deus; o Filho unigênito que está no seio do Pai; é
quem o revelou” João 1:1-4,18
Os estudiosos descobriram que este prólogo Joanino é derivado de um hino
pré-cristão composto por poetas rabínicos em elogio à Torah judaica. Os rabinos
diziam que a Torah era a Lei, sabedoria, palavra. Eles diziam que a Torah
estava desde o princípio com Deus e era o instrumento pelo qual Deus fez o
mundo. Era o tesouro de Deus. A Torah estava desde o princípio no seio de Deus.
Estava cheia de graça e verdade. João pega este hino pré-cristão em elogio à
Torah e transfere a honra da Lei para Cristo. Jesus substitui a Torah.
Em outro lugar no livro de João, expressões como luz do mundo, água da
vida, pão da vida, bom pastor, caminho, verdade e vida que os rabinos ensinavam
designando à Lei judaica, agora é transferida para Jesus Cristo. Cristo é o fim
a quem a Lei aponta, o que é o cumprimento da Lei, o que agora substitui a Lei,
e a substitui como a revelação final de Deus.
Com a vinda de Cristo a Lei perdeu aquele valor que tinha antes, ela não
tem o mesmo significado para João ou para a comunidade Cristã nascente. A
revelação suprema de Deus não veio com Moisés, mas com o Filho de Deus. Por
isto a regra suprema de vida para a comunidade Cristã não pode ser a Torah ;
mas deve ser a palavra que sai diretamente de Deus para o Filho que é os
mandamentos de Jesus.
É significativo que o livro de João apresenta a Lei como a Lei dos
judeus. Nos lábios de Jesus no Evangelho de João, a Lei se torna
invariavelmente “sua Lei”, a Lei deles isto é, a Lei dos judeus.
Assim temos:
“Ora, na vossa lei está escrito que o testemunho de dois homens é
verdadeiro.” João 8:17.
“Tornou-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Vós sois
deuses?” João 10:34.
” Mas é para que se cumpra a palavra que está escrita na sua lei:
“Odiaram-me sem causa” João 15:25.
Observe que João coloca palavras semelhantes na boca de Pilatos, de
Nicodemos e dos judeus:
“Disse-lhes Pilatos: ‘Levai-o vós e julgai-o segundo a vossa lei “.João
18:31.
“Condena a nossa lei alguém sem primeiro ouvi-lo para descobrir o que
faz?” João 7:51.
“Os judeus insistiram, ” Nós temos uma lei, e segundo essa lei ele deve
morrer, porque se fez filho de Deus ” João 19:7.
No quarto evangelho a “Lei” é caracterizada constantemente como “a Lei
dos judeus”.
João, escrevendo perto do fim do primeiro século, reflete a mesma visão
da Lei como havia feito Jesus. A pessoa que ler seu evangelho percebe
claramente uma certa distância pela qual a lei está sendo encarada e como é
associada de algum modo especial com os judeus.
Em João a Lei não é usada como uma regra de vida para a comunidade
cristã, porque Cristo, a quem a Lei apontou já veio. Ele substituiu a Lei como
uma revelação de Deus. Todos os títulos de honra que o os rabinos deram à Lei,
João transferiu para a pessoa de Cristo, de forma que a Lei se tornou [para os
judeus] “sua Lei” agora, a “Lei deles”, ” a Lei de Moisés, ” a Lei dos judeus”.
Enquanto a Lei é valiosa porque tem profeticamente apontado para Cristo, João
já não pode avaliar isto como um judeu avaliaria, ou seja, segundo os moldes do
rabinismo. Para ele a devoção para com a Lei já não caracteriza os filhos de
Deus. A devoção que os cristãos devem prestar agora é para com Cristo.
A fé cristã nos obriga a encarar o testamento de Deus, não como revelado
na Lei, mas como revelado na pessoa de Cristo. A revelação que passou por
Moisés era uma revelação mediada. Não veio diretamente de Deus, porque Moisés
nunca viu a Deus: “Ninguém jamais viu a Deus. O Deus unigênito, que está no
seio do Pai, esse o deu a conhecer.” (João 1:18). Ao contrário, ao longo dos
escritos de João vemos constantemente que a revelação por Jesus Cristo é
superior a Moisés porque Cristo foi ensinado diretamente por Deus. Ele
realmente é a Palavra de Deus em carne. Nas palavras de Jesus o que importa
obedecer não é mais a velha lei mas os mandamentos Dele.
Primeiro, foi mandamento do Pai que Jesus desse sua vida pelas ovelhas:
“Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho [autoridade]
para a dar, e tenho [autoridade] para retomá-la. Este mandamento recebi de meu
Pai.” João 10:18
“E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo,
falo-o exatamente como o Pai me ordenou.” João 12:49, 50
“mas, assim como o Pai me ordenou, assim mesmo faço, para que o mundo
saiba que eu amo o Pai. Levantai-vos, vamo-nos daqui.” João 14:31
” Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo
modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor.”
João 15:10
Percebemos então que a ordem do Pai que Jesus obedece não é a Lei de
Moisés; é a ordem para dar a vida Dele como um resgate por muitos – é o
mandamento do amor sacrificial.
Outra questão significativa é que a palavra ” mandamento ” não só tem o
significado de mandamento do Pai para Jesus, mas também do mandamento de Jesus
para os discípulos dele, vejamos:
” Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu
vos amei a vós, que também vós vos ameis uns aos outros ” João 13:34
” Se me amais, guardareis meus mandamentos “. João 14:15.
“Aquele que tem meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama”. João
14:21
” Se guardardes meus mandamentos permanecereis no meu amor… “. João 15:10
“O meu mandamento é este : Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” João
15:12
” Vós sois meus amigos se vos fizerdes o que eu vos mando “. João 15:14
Os mandamentos de Jesus é “que nós nos amemos uns aos outros como Ele nos
amou “. A expressão ” eu vos amei” é o mandamento que o Pai ordenou, de forma
que, para os discípulos obedecerem o mandamento precisam primeiro refletir
sobre o amor do Pai em Cristo.
Assim, em resumo nós reconhecemos que João distingue a Lei que passou por
Moisés dos mandamentos que passa por meio de Jesus. João evita usar o termo ‘
lei ” ou ” nova lei” para o Novo Testamento que veio por Jesus Cristo. Ao invés
disso, ele usa a palavra ” mandamento” . João não usa a expressão “a lei” nem
nas suas epístolas, no evangelho ou no livro do Apocalipse. Parece que ele
abandona a termo ” lei ” ao tentar expressar nossa obrigação para obedecer a
Palavra de Deus. Nos escritos de João, Jesus, não define um código novo de
regulamentos para a comunidade Cristã. E Paulo tampouco dá detalhes sobre a
ética cristã. O ensino deles é profundamente espiritual. É centrado na mesma
pessoa de Cristo.
Portanto, quando os apostolos falam em guardar seus mandamentos no NT,
temos de levar em consideração o contexto da Nova Aliança em Cristo e não mais
o da Antiga, temos de levar em conta a cruz e não mais o Sinai.
AUTOR
Prof. Paulo Cristiano da Silva
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